Artigo

Viva o SUS (parte 2)

Por Eduardo Caputo - pesquisador associado - Universidade Brown, EUA
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Os leitores mais assíduos dessa coluna devem lembrar que, há cerca de um mês, escrevi contando minha experiência no sistema de saúde americano. Caso você não tenha lido esse texto, vou resumir brevemente, antes de seguir com o desdobramento da minha experiência. Poucos dias após meu retorno aos Estados Unidos, cortei o dedão da mão esquerda, e fui ao pronto socorro imaginando que talvez fossem necessários alguns pontos. Chegando lá, a médica de plantão me apresentou outra abordagem, que me pareceu melhor (tendo em vista que eu pude escolher). Aplicou uma cola cirúrgica, colocou uma bandagem para proteção, e me encaminhou para casa.
Como eu disse no texto passado, eu havia certeza de que a conta chegaria. E chegou! Não pelo correio, como eu estava esperando, mas sim por e-mail (sim, eu sei que é um correio eletrônico). Inicialmente, o meu seguro saúde fez contato, a fim de esclarecer como havia sido o acidente. Se havia terceiros envolvidos, etc. Respondi, conforme solicitado, e fiquei aguardando a decisão e a conta final. Eis que alguns dias atrás recebi um e-mail do hospital, com a "dolorosa". O custo total dessa minha ida ao pronto-atendimento do hospital foi de pouco mais de dois mil dólares. Isso mesmo que você está lendo. Por sorte, o seguro saúde abateu boa parte do valor, e eu precisei pagar 125 dólares para complementar a conta final.
Em torno de 10% da população dos Estados Unidos não possui seguro saúde. Isso significa que caso necessitem de qualquer serviço, seja o mais simples (como foi o meu), ou o mais complexo onde pode envolver ambulância, hospitalização, procedimento cirúrgico, entre outras coisas, terão que pagar toda a conta. E, certamente, esse custo vai ser absurdamente maior do que foi o custo do meu procedimento. O objetivo dessa coluna, não é advogar em defesa de um ou outro sistema de saúde. Cada país tem o seu e, com seus defeitos e qualidades, os sistemas funcionam. A ideia é mostrar a realidade de um sistema muito diferente do que estamos acostumados no Brasil.
Enquanto boa parte da população americana tem acesso a algum seguro saúde. Digo algum, porque pode ser provido pelo empregador ou ser militar, por exemplo, cerca de 25% da população brasileira possui um plano de saúde. Que, como bem sabemos, para muitos se torna inviável tendo o vista o seu custo. Isso significa, que 3/4 da população do País depende exclusivamente do SUS. Ou, se tiver condições financeiras, consegue arcar com a sua necessidade. Claro que eu estou me referindo a hospitalizações, consultas e exames, basicamente. Que é o que as pessoas pensam quando falam em saúde.
Dentro da sua complexidade, o SUS atua em várias frentes, em especial a prevenção, o que passa despercebido da maioria das pessoas. E, esclarecendo, o SUS é sim um sistema complexo, que funciona desde o público total, até parcerias público privadas. É um sistema tão complexo que vários pesquisadores direcionam seus esforços para tentar melhorá-lo. E, novamente, dentre todos os problemas e desafios que nosso sistema apresenta, ele funciona. Mesmo diante de todos os problemas de falta de recursos, advindos dos impostos que os brasileiros pagam, o sistema funciona. Logo, os esforços devem ser redirecionados, na minha visão. Ao invés de reclamarmos na linha de frente, devemos cobrar que os recursos cheguem, melhorando a infraestrutura e a qualidade do serviço. E, quem sabe assim, em algum momento futuro, tenhamos um sistema como de fato sempre se quis.

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